Amor em Declínio- III Capítulo
Após um longo suspiro de tédio partindo de Marcos insinuando
a lentidão da compreensão de Liz, o mesmo expressou:
-Esqueça, Liz. Boa noite, querida!
Saindo da conversa desnorteada, Liz esqueceu de que estava à
caminho do quarto do avô para tirar sua maquiagem no melhor espelho da casa,
então se direcionou novamente ao seu quarto onde se pegou pensativa e com uma
dose incomparável de receios.
Eram mais ou menos onze e cinquenta da noite, a casa estava
parcialmente escura, exceto pela luz que iluminava o corredor dos quartos, o
silêncio era predominante até a porta do
quarto de Liz se abrir com um leve ruído. Liz dormia tranquilamente quando
sentiu dedos gelados escorregar pelo seu corpo tão rapidamente como se
estivesse sempre a procura de tê-lo por completo nas mãos, um sussurro grosso
se estendia e se tornava cada vez mais alto à altura de seus ouvidos. Quando
Liz se deu conta de que realmente estava vivendo aquela situação preparava as
cordas vocais para gritar quando essa mesma mão que a alisava a deteu, tapando-lhe
a boca e lhe encobrindo de qualquer reação ou movimento, lhe usando,
submetendo-a à atos que não acometia seu corpo travado e infantil e sobretudo
lhe tornando mais uma vítima das mais perversas barbaridades de um abuso
sexual.
Dando a entender que aquela noite obscura parecia findar-se,
uma atitude ainda mais aterrorizante para Liz se sucedeu, era Marcos que
sussurrava em seu ouvido esquerdo:
- Que tudo se mantenha em segredo! Você não sabe quem eu sou
nem de onde eu vim, não me conhece... e sua família, principalmente a sua
“amada” mamãe está em minhas mãos!
Liz já não era mais a mesma, se sentia impura, incapaz,
insegura, se questionava o tempo todo a capacidade do ser humano e sua
existência no mundo, chorou até o restante da noite acabar... viu amanhecer...
criou forças e se aprontou para ir ao colégio antes de todos despertarem.
Escreveu um bilhete murmurando de dores em seu corpo e na alma. Nele dizia:
- Precisei chegar à escola cedo por conta de um trabalho em
grupo. Me desculpem não ter avisado antes.
A família de Liz questionou a atitude da mesma mas não
estranharam por se tratar de uma menina dedicada e sempre muito correta.
Liz estava na aula de português com sua professora preferida,
mas nesse dia parecia estar em outro mundo, não ouvia nem via ninguém, apenas
assistia a cena da noite anterior que não sumia da sua cabeça. O transtorno se
tornou notório quando uma outra mão que segurava seu ombro a fez tomar um susto
incomparável.
- Calma! Só queria dizer que seu caderno está no chão...
Disse um rapaz que a observava já há alguns minutos.
Liz aliviada respondeu:
- Muito obrigada! Nem tinha percebido... mas, quem é você que
nunca o vi em nossa turma? Novato?
Continua...
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